Sopa de Letrinhas

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Pacotinho

"Aê, minha querida, a parada é a seguinte: tu pega o pacotinho, abre com cuidado, tira a bagaça de lá e... põe na boca, sacou?"

"Tá, tá, entendi, mas e se não funcionar?"

"Ah, se não funcionar, tu põe a bagaça no pacotinho, dá um jeito pra o bagulho não aparecer e joga tudo fora."

"Tem certeza??"

"Confiiia, mulé! A coisa aqui é profissa!"

Com cuidado, pegou o pacotinho. Abriu devagar, pra não deixar "a bagaça" cair no chão, colocou a coisinha na boca e falou:

"Valeu, tio!! Mó bom! Tem mais chiclé de uva, também??"

terça-feira, janeiro 22, 2008

In transi (tável)

De repente, o único desejo que lhe ocorria era que tudo a sua volta sumisse. E que, instantaneamente, o ambiente ficasse em silêncio. As únicas coisas que queria ter consigo eram caneta, papel, música e água. E a única roupa que gostaria de usar eram pijamas. Sim, pijamas lhe agradavam muito. Eram confortáveis, tinham desenhos surreais, os quais faziam sua cabeça viajar por muitas e muitas idéias. Facilitava na inspiração.

Antes do desejar, as cores eram turvas, o falatório era imenso e a quantidade de informações cruzadas e sem rumo definido que passava à sua frente complicava os sentidos e bloqueava as palavras. Tudo era confuso. Cruel. A mistura exagerada de setas e diagramas fazia com que desejasse profundamente um cenário em branco... E a sensação causada pelos sons era a de uma corda amarrada ao pescoço, impedindo a passagem do ar.

Aquele não era o seu lugar. E tinha certeza disso. Queria mais. Muito mais. Queria poder ser. E estar. E ser e estar. Não suportava o modo com o qual as pessoas lhe olhavam. Não que intimidasse, muito pelo contrário. Sentia-se com agonia. Com vontade de estalar os dedos e colocar nos intrometidos pequenas travas nas bocas, vendas nos olhos, amarrar os pulsos a uma cadeira e não deixar ninguém escapar, até ouvir o que tinha para dizer. Odiava que lhe interrompessem...

Assim como veio, o desejo passou. De repente, não queria mais nada, além de um colchão, um travesseiro e um edredon quentinho. Ah, e os pijamas. Aah, os pijamas. Adorava-os...



[Título provisório. Falta de inspiração. Logo mais eu mudo.]

terça-feira, novembro 13, 2007

(In)Constituição

"Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação". Antes essas palavras se restringissem apenas à letra de uma música de um grupo nacional, mas não é isso que acontece. Elas também denunciam a triste realidade do nosso país.

É com aversão que muitas vezes olhamos para aquelas pessoas paradas na esquina, arrastando seus cobertores impregnados de sujeira, não só aquela formada por resíduos e poeira, mas também pela sujeira que muitas vezes cega aqueles que foram designados para defender nossos direitos.

Fala-se em miséria, fome e falta de moradia enquanto o café não é servido e troca-se se assunto com a mesma facilidade com que o líquido negro desce pela garganta. Os discursos são lindos, claro! Conquistam votos. É fácil falar em distribuição de renda enquanto eles - os governantes - têm a sua garantida.

Imaginem se, por um acaso, eles perdessem tudo o que possuem e tivessem que morar na rua, sendo obrigados a dividir até mesmo uma folha de jornal para amenizar o frio. Mas eles não pensam nisso. Se preocupam em exibir orgulhosamente o índice de crescimento econômico - não tão invejável - e esconder o outro, de corrupção.

Algumas autoridades defendem a chamada "operação limpeza" para resolver o problema dos moradores de rua, mesmo que de forma literal e eles recebam um "banho de loja". A única "operação limpeza" que funcionaria é aquela que começa internamente e se estende primeiro por uma rua, depois pela cidade e por fim, pelo país.

(Nota da autora: Redação feita para o Simulado de hoje. O tema era o problema dos moradores de rua.)

sexta-feira, novembro 09, 2007

Viagem

De repente, qualquer coisa parecia mais interessante do que tudo que se tinha pra fazer. O simples fato de admirar a mão rabiscando palavras sem sentido fazia com que a mente viajasse nos milhares de significados - mais sem sentido, ainda - do desenho daquela mancha branca na unha.

E quando parava pra olhar, largava a caneta e trazia a mão perto dos olhos, que tentavam focalizar uma imagem turva... O que, na verdade, já dava margem pra outras mil filosofias vãs, a partir do desvio do olhar para a sombra na parede.

De silhueta a coelho, de coelho a pomba, de pomba a caranguejo, macaco, cavalo e assim por diante, até os músculos cansarem de se contorcer, formando figuras disformes, contra a luz.

Pausa. Suspiro. É, ainda tem um monte de coisas pra fazer. E o corpo não quer, teima em querer ficar no lugar...O contrário da cabeça, que já tinha ido e voltado da Lua umas duas vezes, perguntado a Saturno qual era o seu anel preferido e viajado por nove galáxias diferentes numa estrela cadente.

Pausa. Baque. A caneta escorrega da mão e cai da escrivaninha, fazendo um barulho que não era bem-vindo, àquela hora. Pessoas se moveram na cama, ao seu lado. Mudaram de posição ou resmungaram alguma coisa. Mas não importava. A viagem ainda estava acontecendo. E não chegaria ao fim tão cedo... Nem mesmo se fosse o querer mais profundo...

[Oh, yeah, baby. E eu ainda tenho prova de Geografia, amanhã.]

segunda-feira, novembro 05, 2007

Queda

Um grito na multidão: socorro. As garras do sofrimento arranham suas costas e o vento congelante da amargura sopra em seu ouvido. Angústia. Agora: corpos sem alma vagam por uma estrada sem fim e não mais sentem o coração bater.

Seca: escassez. E então, quando acham que o estão chegando, despencam num precipício fundo e escuro. A voz não sai. O corpo adormece. A mente padece. E o verso cai... Fim da linha.


[Entrei numa de escrever pequenos textos, ultimamente. Vai saber, né?]

domingo, novembro 04, 2007

Crash

(depois de um longo jejum...)

A chuva batia forte na janela. Quase tão forte quanto as batidas de seu coração. Ela sabia que nada mais seria igual.

O quarto sempre iluminado e colorido, mergulhava numa tristeza monocromática e sombria. Ela desviou o olhar do outdoor do outro lado da rua e direcionou-o para a porta, em uma esperança quase infantil de vê-lo entrar por ela. Mas isso não aconteceria. Não naquela noite.

Um vaso quebrado no chão. Briga. Sua cabeça estava confusa, mas aos poucos começava se lembrar do ocorrido. Vozes alteradas. Um gesto brusco. O vaso no chão.

Ele sai furioso e ela o segue. Por um momento, o barulho do motor se sobrepõe aos seus soluços. A paisagem muda rapidamente. Ela sente um aperto no coração. Eles se olham. Luz.

Um frio lhe percorre a espinha. Ela olha mais uma vez pela janela. Na rua, uma multidão cerca o local do acidente. Aparentemente, um rapaz com alto teor alcoólico no sangue havia batido o carro. Do outro veículo, era retirada a primeira vítima. Um homem de 20 anos é levado para o hospital. Sua namorada não tivera a mesma sorte. Morrera no local.

segunda-feira, outubro 15, 2007

In-Transi-tável

O cinza da cidade me dá nojo. O barulho da avenida me atormenta. As pessoas engravatadas me dão medo. É tudo torto. É tudo errado. Nada do que se vê condiz com o que se fala.

E o dia-a-dia se torna só mais uma rotina. A rotina mórbida que cria homens mórbidos em mais um bairro mórbido... Pânico. Angústia. Aflição. Sinal verde para a loucura.